- Andre Birnath
- BBC News Brasil em São Paulo
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Antes de retomar o treinamento, os especialistas brasileiros recomendam que todos os que se recuperaram do Kovid-19 passem por uma avaliação médica e alguns exames
Pesquisas em todo o mundo estimam que até 16% dos pacientes com Kovid-19 têm algum tipo de problema cardíaco. Os danos ao coração não dependem do grau da doença: mesmo condições leves podem causar danos ao sistema cardiovascular.
O problema é que, muitas vezes, essa sequela no peito não dá sintomas e a pessoa só vivencia suas consequências quando se procura um trabalho extra do sistema cardiovascular.
Por exemplo, isso acontece durante a atividade física: o coração precisa bater mais para fornecer sangue aos músculos e, se houver algum dano causado pelo coronavírus, ele pode não funcionar e falhar.
Para evitar que isso aconteça, a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e Exercício (SBMEE) em colaboração com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou a primeira diretriz para um retorno seguro ao exercício após o Kovid-19.
“Sentimos a necessidade de orientar nossos colegas médicos e toda a população que pratica alguma atividade física sobre como aliviar qualquer problema”, defende a Dra. Clea Simon Colombo, porta-voz da SBC e uma das autoras de um artigo publicado recentemente.
Entre as recomendações mais importantes destacadas está a marcação de consulta com o médico, que pedirá alguns exames cardiológicos antes de liberar uma tentativa mais séria.
Como o coronavírus afeta o coração?
Já se foi o tempo em que se via o Kovid-19 apenas como uma doença respiratória. Hoje em dia, sabe-se que não se limita aos pulmões e tem muitas consequências no organismo, incluindo ataques aos intestinos, rins, cérebro e coração.
No músculo cardíaco, o SARS-COV-2, vírus causador da atual epidemia, tem ação direta e indireta. Primeiro, o patógeno permanece lá e destrói as células do órgão.
Em segundo lugar, a infecção cria uma resposta enorme do sistema imunológico. Isso pode levar a um estado de inflamação que prejudica o funcionamento de várias partes do corpo (incluindo o sistema cardiovascular).
“Esses processos podem levar a miocardite, cicatrizes e áreas com fibrose”, disse o Dr. Marcelo Leto, ex-presidente da SBMEE e responsável pelas diretrizes publicadas recentemente.
A arritmia não é apenas um desequilíbrio nas batidas que permite que o coração se contraia para bombear o sangue pelas artérias. Em um momento de esforço, o órgão precisa funcionar de forma muito rápida e eficiente, pois isso aumenta a demanda por oxigênio e nutrientes de todo o corpo.
Esta é exatamente a situação em que aparece esse desequilíbrio cardíaco. “A miocardite é a causa mais comum de morte súbita”, disse Colombo.
Diagnóstico de Kovid-19 e expectativa de que tal piripac ocorra em até 60 dias após a recuperação.
Estudos feitos durante a epidemia descobriram que problemas cardiovasculares relacionados ao coronavírus também são vistos em condições leves. A infecção é um fator de risco para doença cardíaca pré-existente, mas também pode desencadear o aparecimento de doença torácica em até 12% dos pacientes.
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Em tempos de epidemia, os aplicativos de videochamada podem ajudar a conectar professores e alunos a sessões de exercícios e até mesmo manter a forma física em casa.
Como você se protege?
O documento assinado pelas duas associações médicas é preciso: antes de voltar a praticar qualquer esporte, todos os portadores de Kovid-19 devem passar por uma avaliação médica. “O profissional vai diagnosticar a doença de acordo com a gravidade da infecção, fazer um exame físico no ambiente de trabalho e pedir alguns exames complementares”, explica Leto.
Os especialistas sugerem que todos os que já se recuperaram façam pelo menos um eletrocardiograma, um teste simples que mede a atividade elétrica do coração – responsável por controlar o batimento desses músculos.
Agora, para os casos mais graves ou para atletas profissionais e praticantes de esportes competitivos, o check-up após o Kovid-19 precisa ser mais completo.
Além do eletrocardiograma, a diretriz lista outros testes como a troponina na dosagem sangüínea (proteína que se altera quando o coração não funciona bem) e o teste ergométrico (teste realizado em esteira para medir a resistência física, cardíaca e pulmonar). Holter (que mede a pressão arterial 24 horas por dia) e também uma ressonância magnética.
Se os resultados estiverem corretos, o indivíduo pode retomar o treinamento. Em caso de qualquer alteração ou diagnóstico de miocardite, é importante aguardar um pouco. “Geralmente, o paciente precisa estar entre três e seis meses de descanso e algum reexame deve ser feito para ver como a condição se desenvolve durante esse tempo”, disse Colombo.
Reinicie a arte e os cuidados básicos
Para quem já recebeu luz verde para voltar à academia, pista, academia ou gramado, é importante levar com leveza no início. Não dá para usar a velocidade antes da epidemia, pois o corpo não está acostumado e perdeu o condicionamento nos últimos meses.
“As costas devem estar regulares e vale a pena fortalecer os músculos antes de iniciar o treinamento aeróbico, como corrida ou ciclismo”, sugere Colombo. Ter a orientação de especialistas em educação física é ainda mais essencial neste momento.
Também é fácil fortalecer as medidas básicas de proteção contra o coronavírus. Procure fazer exercícios em casa com boa circulação de ar ou em locais públicos como parques, praças e clubes.
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Se for à academia, priorize horários de menor movimento e certifique-se de que haja boa circulação de ar na região. Antes de usar qualquer equipamento, desinfete com álcool 70%
Continue dicas: use máscaras antes e depois do treino. Não pare de falar com outras pessoas e mantenha sempre uma distância de pelo menos 2 metros de outros praticantes de exercício. Por fim, lave as mãos com água e sabão e desinfete os itens que usar no treinamento com álcool gel ou álcool 70%.
Essas recomendações se aplicam mesmo se você já tiver Covid-19, pois ainda não sabe quanto tempo durará sua imunidade contra o coronavírus e sempre há o risco de transmitir o agente infeccioso para as pessoas ao seu redor.
Existe uma reconsideração?
“Se você se sentir muito cansado durante ou após o exercício, se sentir palpitações, falta de ar ou dor no peito, consulte um profissional de saúde novamente”, disse Leto. Esses podem ser sinais de algo errado com o sistema cardiovascular.
Se tudo correr bem e o ritmo das operações estiver se desenvolvendo sem problemas, os especialistas de ambas as associações médicas solicitarão uma reavaliação dois ou três meses após a liberação inicial. Portanto, você pode ter certeza de que não surgirão novos problemas.
Afinal, muito ainda se desconhece sobre o coronavírus e seus efeitos em longo prazo. Para evitar surpresas desagradáveis em seu coração, a melhor maneira é sempre ter o dobro de cuidado.
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